Sobre tradições e novos olhares

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Estamos finalizando a Semana Santa. Escuto que essa época, para alguns, é tempo de não comer carne vermelha, de desintoxicar-se de maus pensamentos ou comportamentos reprováveis, de não reclamar, coisas do tipo. A Páscoa significa renascimento, recomeço, mudança, vida. É nesse período que comemoramos um ponto marcante na nossa história: Cristo e Jesus de Nazaré se reúnem pela ressurreição. Por isso o uso dos ovinhos de páscoa. Os ovos simbolizam, não só para a religião católica, mas para várias histórias mitológicas, a VIDA.

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Digo tudo isso apenas para contextualizar minha reflexão. Judas, um dos 12 discípulos de Jesus, o traiu, entregou-o aos inimigos para ser crucificado e, depois, arrependido, se enforcou. Esse enforcamento é reproduzido até hoje. Você já imaginou o que uma criança, no auge dos seus questionares 4 anos de idade, entende por uma tradição chamada de “malhar o Judas”?

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Foto de 2019, nas ruas de Fortaleza-CE (fonte: meu celular)

Nunca tinha pensado nisso por esse viés que venho trazer para vocês hoje, mas, desde que passei por vários sinais de trânsito da cidade e vi bonecos com rostos de políticos e jogadores de futebol, não consigo tirar isso da cabeça. E hoje, 20/04/2019, eu vi essa cena da foto. Um boneco, com tamanho e forma de uma pessoa adulta, com trajes atuais (simbolizando qualquer um de nós), pendurada pelo pescoço e, para compor a cena, um grupo de pessoas sentadas ao redor, aguardando… Vocês podem me perguntar: “mas pelo que elas estavam esperando, Carol?” Pelo momento que iriam atear fogo no tal boneco. Todos aguardavam, ansiosos.

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Morte e vida estão intimamente ligados. Para mim, o ponto em questão não é o fato de não podermos conversar sobre a morte, mas sim o prazer estampado no rosto de todos que acompanham o enforcamento e a queima daquele que traiu Jesus. A existência de Judas já havia sido profetizada, isto é, Jesus já sabia que Judas ia entregá-lo desde o princípio. Mas mesmo assim decidiu fazê-lo discípulo e tê-lo por perto para ensiná-lo o verdadeiro caminho do amor.

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Jesus, pelo que diz a história, era um ser iluminado, cheio de amor e perdão. Será que esse mesmo Jesus gostaria que o arrependimento e suicídio do seu amigo fosse replicado por séculos e séculos?

Foto de 1909 – queima do Judas (fonte: internet)

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Com todo respeito às tradições, para mim, o que isso sinaliza, na verdade, é que estamos, hoje, diante de uma cultura extremamente violenta, onde buscamos culpados e não tentamos resolver a situação de forma mais ampla. Essa cultura reproduz o pensamento de uma sociedade, num dado momento histórico, e essa sociedade é composta por pessoas. A ideia é acharmos um culpado, para julgá-lo e condená-lo. Pronto! Resolvido! Consequência: marginalização, exclusão e zero reabilitação. Consequência? Mais violência, mais culpados, e o ciclo continua.

Adicionado a isso vem o adoecimento do corpo e da alma. Depressão, ansiedade, pensamentos suicidas, feminicídios, educação por meio da violência, cânceres, traumas, doenças autoimunes… Solução? Na minha percepção, seria o maior ensinamento de Jesus Cristo: AMOR, EMPATIA, NÃO-JULGAMENTO.

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Por isso, contemplando todos os dias a importância do amor (todos os tipos deles) na saúde integrada do sujeito, desejo nessa Páscoa: menos Judas queimados e mais caça aos ovinhos de Páscoa. Essa tradição sim, é cheia de ensinamentos importantes: ajude o colega, divida, pense junto, busque, se esforce, que você encontrará, dentro de você, a grande fonte da vida (simbolizado através dos ovos).

FELIZ PÁSCOA!

Muito amor e renovação!

Caroline Vieira, psicóloga (CRP11/5090)