IMPORTAR-SE

(escrito dia 09 de fevereiro de 2021)

Eu falo pouco dele por aqui, porque não quero que entendam que minha história de amor é linda, perfeita e sem erros.

Eu, que sou terapeuta de casal, estaria me contradizendo se propagasse isso aqui. Então, que fique bem claro, apesar dele parecer um príncipe (desculpa aí, mas sou babona), nós discutimos, nos desentendemos, lutando dia após dia pelo que acreditamos ser maior que todos os desafios.

E, eu acredito, hoje mais do que nunca, que isso é o que une e sustenta um casal, uma família: IMPORTAR-SE. Não desistir. Pedir desculpas. Perceber que pisou na bola e correr atrás para corrigir.

Isso, é claro, se fizer sentido.

Hoje, ele saiu cedinho para surfar, como de costume. Chegou com uma energia tão alta que, às vezes, “briga” com a minha, baixa, quando acordo. Ele fez o café da manhã e um lanchinho para eu levar para o hospital (para mais uma sessão de quimio, 17 de 20 desse segundo ciclo).

Ele levou as crianças para casa do meu pai e tocou violão para ele se emocionar um pouco, pela manhã.

Ele brincou com as crianças lá embaixo no parquinho, no final da tarde. Os gritos se misturavam com a minha tentativa de meditar na aula de Yoga. Mas não incomodava, me enchia de alegria.

Hoje eu dormi após o almoço (sinto muita fome e sono após a quimioterapia) e ele me perguntou se eu precisava de alguma coisa. Verificou se eu estava me sentindo bem e disse que o chamasse, caso eu precisasse (foi colocar o caçula para dormir).

Hoje ele achou bobo o seriado que eu estava assistindo e disse que não acreditava em nada que o documentário que eu via, depois do seriado, dizia.

Ele foi dormir 22h, apesar de estar de férias, eu tô acordada até agora porque, pra variar, bebi café demais… e ele só toma chá.

Ele é perfeito para mim. Nas imperfeições dele, e nas minhas, nós conseguimos orquestrar e harmonizar bem nosso dia-a-dia.

Eu me importo.
Ele se importa.

Por isso lutamos juntos.
Eu aqui. Ele ali. Cada um nas suas batalhas.

Mas juntos.

Nem sempre “firmes e fortes”, mas persistentes.

Amo você, @leo.nardo.vieira
Obrigada. E de nada. 😉😘❤️

Querida amiga, morte!

(Escrito dia 02 de fevereiro de 2021)

🖤É interessante como vivemos querendo que o tempo passe, mas não queremos morrer nunca. Esse tema, inclusive, é proibido, pois a sensação que dá é que se falarmos sobre a morte estaremos a convidando para perto de nós. Como se ela precisasse de convite.

🖤Morremos todos os dias! Sim. Morremos de várias formas diferentes, dia após dia. Vivemos também, sim. Mas eu quero refletir hoje sobre esse incômodo: o nosso morrer e o morrer do outro.

🖤Quantas vezes já ouvi de outras pessoas: “Você não era assim! Cadê aquela Carol de antigamente?!”. Sem filtro, eu diria: “Morreu! O ciclo de vida dela se fechou. E ficaram as boas lembranças.” Mas eu já imagino os olhos arregalados e o susto em ouvir falar da Dona Morte.

🖤Olha só que paradoxal! Vivemos esperando o final-de-semana. Loucos para postar que #sextou porque aí (finalmente) poderemos curtir a vida. Isso quando não vivemos no automático até chegar o tão esperado mês de férias.

🖤Temos uma visão distorcida de tempo. Presente, passado e futuro não são lineares, como imaginamos. Passado e futuro estão aqui, hoje. Nas nossas lembranças e nas nossas expectativas. Tudo impregnado com o que estamos vivenciando agora. Então, na verdade, na verdade, a vida e a morte acontece hoje! Diariamente!

🖤Alguém adoece. Alguém morre (fisicamente ou não). Alguém se muda. Um amigo se afasta. Um relacionamento termina. Somos pegos “de jeito”. Porque vivemos como se nunca isso fosse acontecer. É o tal do “felizes para sempre” impregnado na nossa forma de ver a vida.

🖤Morremos. Não temos como evitar. Todos passam por essa experiência de morte. A diferença é o depois, isto é, como lidamos com essa (não tão) querida amiga.

Autora: Caroline Vieira

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Viver é uma festa diária

(Escrito em 28 de janeiro de 2021.)

Não me entendam mal, por favor. Não quero aqui entrar naquela linha de positividade tóxica, blá blá blá.

Ontem, eu estava pedindo desculpas para meu marido, que completará 40 anos no domingo, porque não poderemos fazer uma festinha mais bacana para comemorar uma data tão significativa. E ele disse: “Que nada, amor! Só quero que tenhamos saúde!”.

Então, lembrei do livro que estou lendo da Pema Chödrön, “Quando tudo se desfaz”, e a visão do budismo para nossa forma, muitas vezes (mas, nem sempre), adoecida de viver. Ela sugere que vivamos no presente, sem esperarmos por aquele momento em que teremos mais dinheiro, seremos mais realizado, mais amadurecidos.

Todos os dias, todos os minutos, podemos decidir olhar para a vida com mais bondade, ou não.

Uma ida à infusão da quimioterapia pode ser, sim, um momento encantador. Hoje, eu lavei meus mais novos cabelos curtos e cacheados antes de ir para o ambulatório do hospital. Na saída, vi minha imagem refletida no vidro da janela do estacionamento e pedi para minha irmã, Cybele, fazer uma foto. Tirei rapidamente a máscara e registramos esse momento. Eu me sentindo linda e feliz!

Sim. Feliz! Dá para acreditar? Eu juro a vocês que, se me contassem que eu estaria ainda firme sob meus dois pés hoje, depois de tanta mudança, eu duvidaria.

E você? Teve momentos felizes no teu dia hoje? Me conta aí nos comentários!

Autora: Caroline Vieira

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