Hoje eu decidi ser feliz

Hoje eu decidi fazer as coisas que amo.

Hoje eu decidi que o dia seria leve e que eu ia cuidar de mim.

Hoje eu decidi brincar com meus filhos de uma maneira inteira, curtindo a presença deles e entrando verdadeiramente no mundo deles.

Hoje eu decidi que ia tomar um banho gostoso, demorado, que ia pentear meus cabelos os admirando e que ia ficar linda e cheirosa para mim.

Hoje eu decidi dormir aquele soninho gostoso, à tarde, sem perder (tanto) tempo nas redes sociais.

Hoje eu decidi não criticar aqueles que não acordaram hoje com a mesma decisão que a minha, aqueles que precisam de um tempinho para reclamar das coisas pequenas e ficarem carrancudos, chateados. Tudo bem! Temos dias bons e ruins. Amanhã talvez eles decidam acordar diferente. Talvez não, mas nada melhor que um dia após o outro.

Hoje eu decidi andar de bicicleta até a pracinha com meu marido, meus filhos e meus dois sobrinhos. Curtir a natureza e o contato com a nossa cidade. Decidi dar boa tarde para quem eu encontrava e dar um abraço gostoso no maridão que é um pai e um tio incrível.

Hoje eu decidi tomar banho de piscina gelada, às 17h (um grande feito para mim!). Coloquei meu maiô e não liguei para o fato do meu corpo não estar como eu gostaria. Nadei com meus filhos e percebi que meu caçula está um peixinho na água, seguindo os “passos” do irmão e do papai. Certamente terei três surfistas em casa.

Hoje eu decidi dar gargalhada ao tentar subir numa bóia de picolé gigante! (Kkkk) Depois de muita ajuda consegui! E minha irmã riu de mim do lado de fora da piscina (claro! Ela lá é doida de entrar naquele frio?!)

Hoje eu decidi me alegrar com a carinho da minha mãe que trouxe mais boias para seus netos aproveitarem a piscina.

Hoje eu decidi me sentir lisonjeada por morar num prédio onde eu tenho piscina para brincar com minha família, após um passeio de bicicleta. Sei que esse privilégio não é para muitos.

Hoje eu decidi demorar um bocadinho mais no banheiro, enquanto o maridão fazia o jantar e as crianças ficavam na TV, para que pudesse escrever e transbordar essa minha alegria que decidi construir hoje para mim.

Exatamente! Ser feliz, muitas vezes, é uma decisão. Eu sei que em outros momentos, não. Sei que sentimos dor por diversos motivos, mas o sofrimento é um escolha (que não precisa ser imediata). Hoje, só por hoje, decidi ser feliz! Amanhã não sei como vai ser, mas HOJE foi um dia maravilhoso!

Autora: Caroline Vieira

Autora: Caroline Vieira

(continua no próximo post)

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Quando o aqui-e-agora é o melhor presente.

Meu filho caçula, Rafael (3a6m), sempre quando vai ao banheiro (fazer o número dois) pede companhia. Eu aproveito esses momentos para perguntar como foi o dia dele, o que ele mais gostou e o que não foi tão legal (coloquei aqui no IGTV esse exercício para vocês fazerem com seus pares. Confere lá!). Eu já percebei que, nesses momentos, sempre temos conversas bem interessantes, mas hoje foi recorde.

“Do nada”, como costuma falar, Rafa me perguntou: “Mamãe, o que você tem no seu sangue?”. Eu fiquei pensativa, tentando achar a melhor forma de explicar. Minha veia acadêmica falou mais alto, mas ele foi logo preenchendo os espaços falando: “Soldadinhos, mamãe?”. Eu: “Sim! Soldadinhos, mas eles lutam contra…”. Ele: “‘Camo’ (tradução: como)? Com arco-e-flecha? Com atacadores?”. Eu: “Sim, sim… Os soldadinhos e os remédios lutam contra… o CÂNCER!”. Resolvi, no impulso, falar o nome real, nu e cru, para facilitar a compreensão dele mais tarde. Ele parou, me olhou e disse, no auge de sua sabedoria infantil: “Mamãe, porque você tá CANSADA?”. Por algum motivo, ele conectou o nome câncer com cansada. Eu disse: “Interessante, Rafinha.” Mas logo ele veio preenchendo novamente os espaços de silêncio e falando sobre outras coisas.

Claro que isso me fez refletir. Nos últimos dias, estava mais introspectiva, sem ideias para escrever e me cobrando em “programar conteúdo” para redes sociais. Detalhe: eu estou em pausa do trabalho devido ao tratamento contra a #leucemiapromielociticaguda. Supostamente, eu não deveria estar me preocupando com isso, mas, quando nos acostumamos a um modo de vida disfuncional, é muito difícil de se desfazer.

Recentemente, encontrei com minha amiga e parceira de trabalho, Priscilla Costa @priscilacdv, lá no consultório novo, do Instituto Caroline Vieira – ICV @instcarolinevieira. Fui, num domingo, sozinha, não encontrei com ninguém, apenas com ela à distância, de máscara e tudo o mais necessário para termos segurança. Conversamos, choramos, nos atualizamos, compartilhamos inseguranças (mais eu do que ela), confirmamos nossos desejos, enfim, foi um momento muito importante para nós. E, desse dia, uma das reflexões mais fortes que aconteceram foi sobre a minha necessidade de ajustamento criativo e atualização, como falamos na Gestalt-terapia.  Percebi que, nas últimas duas sociedades de fiz parte, tive dificuldade de me desapegar de coisas que já havia conquistado, mesmo que não fizessem sentido mais. Acredito que, se tivesse olhado mais para o presente, para o aqui-e-agora, teria ajustado a rota e, talvez, não teria sofrido tanto com a sua finalização, principalmente da minha história com o Espaço Integra (@espacointegra).

Eu vivia pensando no amanhã. Programando, tendo ideia super legais (e gigantescas, muitas inviáveis de serem sustentadas), fazendo contatos (externos) e parcerias. Quando eu conquistava, já estava de olho no próximo passo, na próxima batalha. Isso me tornou uma pessoa ansiosa e, em alguns momentos, intolerante com o ritmo mais lento (comparado com o meu) dos outros. Claro que, hoje em dia, não me orgulho disso, mas, há pouco tempo, isso era motivo para que eu me gabasse. Eu ficava toda me achando quando alguém falava: “Não sem como você consegue fazer tudo isso, Carol!”. Nesse Natal, quando uma querida amiga mencionou que ela e seu marido se fizeram essa pergunta, eu não me orgulhei. Ou melhor, me orgulhei por ter tomado consciência do quanto isso é disfuncional e o quanto isso vai de encontro ao que sempre falei que queria para minha vida: “eu não vou viver para trabalhar, eu vou trabalhar para viver”. O “problema” é que fui, nesses quase 12 anos de formada, acumulando conquistas (como qualquer pessoa que se esforça e trabalha com ética e afinco acumula) e me apegando a tudo! Não conseguia me desfazer de coisas que conquistei, porém que não faziam mais sentido.

Percebi isso com um comentário da própria Pri, em outro momento. Eu tinha um sofá na minha sala que ganhei de casamento da minha irmã, Tatá. Eu amava esse sofá. Ele tinha história, já estava na nossa família há quase 8 anos! Porém, minha mãe comprou um sofá novo para a casa dela e nos deu o dela antigo que era mais novo e mais confortável que o nosso. O coloquei, então, no meu quarto. Detalhe: ele é gigante para ficar dentro de um quarto. Pensei em onde poderia colocá-lo para “aproveitá-lo”. Foi então que Pri comentou: “Por que você não vende? Você não precisa ficar guardando esse. Vende e quando, e se, você precisar, você compra outro. Você já percebeu que você costuma fazer isso?”. Verdade! Que dificuldade é essa de me desfazer das coisas que não uso mais, apesar de estar em boas condições? Isso é uma cultura introjetada da minha família. Uma vez que meus pais compravam algo, aquilo era usado até se acabar. Por um lado, isso é bacana, sustentável e tal, mas, no caso da minha família, tinha uma dificuldade de manutenção das coisas, de atualização. E eu trago isso na minha vida de diferentes formas.

Voltando para a conversa que tive com a Pri, no domingo passado. Falei para ela que queria viver o agora com o ICV. Falei que queria ajustar a rota de acordo com o que vivíamos e fizesse sentido para nós duas, para que fôssemos felizes na caminhada e não para conseguir algo lá longe, na linha de chegada. Nas duas sociedades que fiz parte (IGC, de 2006 a 2012, e Espaço Integra, de 2012 a 2019), eu, por um algum motivo, acreditei que era “para sempre”. E, entendam, não estou falando isso com nenhuma melancolia ou pesar, mas sim como a constatação de uma forma disfuncional de viver. Acreditar que é “pra sempre”, para mim, me tirou da responsabilidade de fazer o que é preciso no agora. Eu não me atualizei e o fim desses dois ciclos chegaram em mim como um grande tsunami.

Hoje, com tudo que estou vivenciado nos últimos quase 3 meses, tenho buscado estar presente. Elaborando uma situação por vez, porque, minha gente, é muita coisa para uma criatura só digerir. Estou ainda me descontruindo. Me descontruindo de verdades introjetadas e me questionando sobre o que eu quero sustentar vivenciando de uma maneira tão disfuncional.

A necessidade de estar atenta ao presente me fez lembrar das várias vezes que me embriaguei na adolescência. Dei risada nesse jantar de Natal conversando com minha irmã, Sarah, e me perguntando por que diabos eu fiz tanto isso. Qual era a minha necessidade de não estar presente? Entendam, não estou me referindo a bebida usada para fazermos um brinde e comemorar algo feliz, mas a bebida como simples entorpecimento. Na minha adolescência, não havia ainda a Lei Seca. Já perdi as contas de quantas vezes voltei para casa dirigindo embriagada ou com um motorista bêbado. Claro, sem meus pais saberem disso. Meu anjo da guarda teve trabalho, viu?

E por falar em anjo, tenho sentido a presença deles ao meu lado com frequência. Eles trazem sinais que me alertam para situações de perigo ou para reflexões que preciso fazer a fim de me desenvolver enquanto ser humano. Rafael fez esse papel no momento que conversávamos no banheiro. Ao conectar o CÂNCER com estar CANSADA, ele me lembrou do meu objetivo de vida: TRABALHAR PARA VIVER. Se eu estiver sempre cansada, como vou ter forças para viver meu grande presente, meu HOJE?

Autora: Caroline Vieira